sábado, 24 de julho de 2010

Os bons efeitos do vinho

O consumo excessivo de álcool é bastante prejudicial, como sabemos. Mas de todas as bebidas alcoólicas, o vinho é a mais favorável à saúde humana — se consumida de forma moderada e regularmente, sempre às refeições, vale ressaltar. Seus componentes têm o poder de prevenir determinadas doenças, principalmente as cardiovasculares.

Beber duas taças de vinho, tinto principalmente, durante as refeições, é comprovadamente benéfico, segundo o médico, professor universitário, escritor e enófilo mineiro Júlio Anselmo de Sousa Neto. Sua afirmação é baseada em estudos realizados pela comunidade científica desde a década de 1960.

Pode-se dizer que o vinho é um agente da longevidade, pois além de proteger de uma série de doenças — como infarto, derrame cerebral, problemas arteriais, diabetes, AVC, hipertensão, obesidade e até mesmo o mal de Alzheimer e alguns tipos de câncer — também combate os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das células humanas.

Júlio Anselmo comenta que na Europa, no sul da França, região produtora de vinho, é registrada a menor incidência de doenças cardiovasculares da Europa Ocidental/Central. E que na ilha de Creta são verificados os maiores índices de longevidade, assim como no Cáucaso, região próxima à Rússia. “Nesses locais você vai encontrar pessoas que consomem vinho, muito vegetal, verduras, legumes, peixes, azeite de oliva; a alimentação dita mediterrânea. Então, o vinho, junto com esses alimentos, vai compor uma dieta saudável e contribuir para a longevidade”, avalia.

Apesar de o brasileiro estar estreitando cada vez mais sua relação com o vinho de uns anos para cá, conhecendo-o e aproveitando melhor seus benefícios, o consumo da bebida ainda é muito pequeno no País. Na França e na Itália, bebe-se hoje em torno de 60 litros per capita. Por aqui, isso fica em torno de dois litros per capita. “É muito pouco. Nós temos uma população enorme e o poder aquisitivo da maioria ainda é muito baixo. A democratização do vinho é uma questão que tem que acontecer no Brasil”, analisa Júlio Anselmo.

Vinho com moderação tem efeito benéfico

Desde os anos 60 são realizadas pesquisas científicas analisando a incidência de várias doenças em pessoas que bebem vinho com moderação, nas que não bebem e naqueles que consomem a bebida de forma exagerada. Os resultados obtidos comprovam que muitos males se manifestam menos nos bebedores moderados e regulares de vinho, principalmente o tinto.

A ação de elementos básicos da composição do vinho — como os polifenóis, flavonóides e o resveratrol, dissolvidos no álcool — protege, principalmente, contra doenças cardiovasculares: infarto, derrame cerebral, problemas arteriais; mas também aumenta o bom colesterol (HDL) e reduz o mau colesterol (LDL), além de gerar benefícios a hipertensos, diabéticos, ter poder anticancerígeno, rejuvenescedor, entre muitos outros.

“Além disso, com relação ao mal de Alzheimer, pessoas que bebem vinho têm menor incidência da doença. Elas também têm menor incidência de alguns tipos de câncer, como o de próstata, o de mama, e até mesmo o do aparelho digestivo, que sempre foi relacionado ao consumo de álcool. Osteoporose também, que é uma doença que atinge muito as mulheres, principalmente depois da menopausa, ocorre menos naquelas que consomem moderadamente o vinho”, enumera o neurologista, professor universitário, escritor e enófilo mineiro Júlio Anselmo de Sousa Neto, que esteve em Natal na semana passada ministrando curso sobre vinhos franceses.

Júlio Anselmo alerta, porém, que, embora possua tamanha ação preventiva com relação a várias doenças, o vinho não é medicamento nem deve ser prescrito como tal. “Certa vez, uma paciente minha pediu uma receita de cinco vinhos para ela beber como se fosse algum tipo de remédio”, recorda-se. “Tome vinho por prazer. Os benefícios vêm na sequência. Esse é o único aspecto positivo do álcool bebido de forma moderada.”

E para obter os tais benefícios gerados pelo vinho, em especial o tinto, é fundamental que ele seja bebido regularmente e de forma moderada, sempre durante as refeições. Mas e o que seria moderação nesse caso?

O enófilo mineiro esclarece que o consumo diário de álcool não deve ultrapassar mais que 30g. Mais do que isso é exagero e passa a fazer mal ao fígado, ao aparelho digestivo e todas as consequências ao aparelho nervoso que a bebida alcoólica acarreta. “Em termos de consumo de vinho, você poderia consumir de uma até três taças, em torno de 200 ml, por dia. Mas isso vai depender do tipo físico da pessoa, do peso corporal. As mulheres, por terem menor massa corporal, devem consumir um pouco menos. Mas em resumo é mais ou menos isso: de uma a três taças por dia. Geralmente se fala em duas taças. Ou seja, uma taça ao almoço e uma ao jantar.”

Efeitos do vinho

Se tomado de forma moderada e regular, o vinho, principalmente o tinto, tem o poder de diminuir a incidência de determinadas doenças.

> VINHO E CORAÇÃO

O vinho diminui o mau colesterol (LDL) e aumenta o bom colesterol (HDL); modifica a camada interna dos vasos sanguíneos; aumenta a resistência e a elasticidade da parede vascular; dilata os vasos diminuindo a resistência ao trabalho do coração; dificulta a formação de coágulos, diminuindo a incidência de infartos, derrames cerebrais e gangrena.

> VINHO E ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC)

Pessoas que possuem o hábito de beber vinho regularmente, e de forma moderada, têm 40% a 60% menos riscos de desenvolver AVC isquêmico (quando há obstrução de um ou mais vasos, diminuindo o fluxo sanguíneo). Já o consumo abusivo, ou seja, mais de cinco copos ao dia, aumenta o risco de AVC hemorrágico.

> VINHO E PRESSÃO ARTERIAL

Estudo feito pela Universidade federal do Rio de Janeiro constatou uma ação vasodilatadora em um polifenol do vinho, retirado da casca da uva, o que reduziria a pressão arterial. Concluiu-se, então, que o vinho bebido de forma moderada e regular, durante as refeições, teria ação anti-hipertensiva maior que outras bebidas alcoólicas.

> VINHO E CÂNCER

Alguns cânceres têm relação direta com o consumo de bebidas alcoólicas (de boca, pulmão, próstata, mama e intestino) — valendo para cervejas e destilados. Mas o vinho mostrou-se uma verdadeira proteção ao desenvolvimento dos tipos da doença acima citados. Mulheres bebedoras regulares e moderadas de vinho têm 50% menos chance de desenvolver câncer de ovário.

> VINHO E DIABETES

O vinho é a bebida mais favorável ao diabético, pois aumenta a sensibilidade das células à ação da insulina, melhorando o aproveitamento dos açúcares e evitando acúmulo no sangue; diminuindo a insulina circulante; diminuindo a necessidade de medicamentos; favorecendo o emagrecimento.

>VINHO E OBESIDADE

Algumas clínicas de emagrecimento incluem o vinho, principalmente o tinto seco (menos calórico) no cardápio, pois os polifenóis presente nesse tipo da bebida destroem os adipócitos por inibição de enzimas metabolizadoras de gordura.

>VINHO E ENVELHECIMENTO

Estudos comprovam que quem bebe vinhos às refeições, sempre de forma moderada e regular, morre mais tarde e tem melhor qualidade de vida. Os vinhos tintos são ricos em polifenóis, potentes eliminadores dos radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das células.

>VINHO E DEMÊNCIA

Pesquisa feita na região de Bordeaux, na França, mostrou que as pessoas que bebiam de 250 a 500ml de vinho tinham 75% menos chance de desenvolver o mal de Alzheimer; isso porque o vinho preserva os neurônios e protege a circulação cerebral.

>VINHO E VISÃO

Como os polifenóis do vinho são potentes combatentes dos radicais livres e melhoram a circulação, os bebedores contumazes de vinho têm 20% menos de cegueira por idade.

>VINHO E PULMÃO

Pesquisa realizada pela Universidade de Bufalo, nos EUA, constatou que pessoas que têm o hábito de beber vinho regular e moderadamente possuem melhor função pulmonar. Fumantes que tomam vinho, dessa forma, têm os malefícios do cigarro atenuados.

Efeitos do vinho

Júlio Alsemo » neurologista e enófilo

•Alguma variedade de vinho tem mais propriedades benéficas que outras?

Em princípio, os vinhos tintos protegem mais que os brancos, pois têm mais polifenol. Há também a variedade da uva, por exemplo, cabernet sauvignon, merlot, pinot noir... Algumas pesquisas mostravam que a pinot noir, por exemplo, tinha maior índice de polifenol. Mas qualquer tipo de uva que origina o vinho vai oferecer proteção à saúde. Mas existe uma outra questão interessante: se a uva protege para que então eu tenho que beber o vinho? Curiosamente, descobriu-se que com uma certa fermentação esses polifenóis do vinho se modificam e conferem, não se sabe ainda exatamente porque, mais propriedades benéficas. Mas quando são colocados o vinho e o suco da uva na dieta de animais de laboratório, o vinho tem um efeito muito maior. E aí existem algumas possíveis explicações: o vinho é uma bebida alcoólica e o álcool seria o meio solúvel ideal para absorção dos polifenóis. Seria uma das razões. A outra poderia ser que esses compostos, ao passarem pela fermentação, adquirem alguma propriedade química que os tornam mais ativos.

•Como analisa a mudança na relação do brasileiro com o vinho nos últimos anos?

O Brasil não tem tradição vinícula, enquanto que na Europa, em países como Portugal, França, Itália, essa tradição é de séculos. Então, isso faz uma diferença brutal. Lá, o vinho tem papel de complemento alimentar. Ele está presente na alimentação, vai à mesa todos os dias. No Brasil, além da falta de tradição, há um problema supostamente dificultante, que seria o calor. Nós temos um clima tropical, quente; no Nordeste e Norte, mais ainda; o que dificultaria tomar vinho. Mas isso não é muito correto, não. Se você for na Europa no verão, você pega temperaturas de 40 graus, inclusive na França, na região de Bordeuax, por exemplo. Eu já estive lá algumas vezes e comprovei isso. E eles param de beber vinho? Não! Eles mudam; compram vinhos brancos, rosê, espumantes, que são mais adequados. Mas o brasileiro está mudando. Acho que a classe média está entrando no vinho de uma maneira muito sólida, fazendo cursos, estudando, lendo, se interessando e vendo que é uma bebida salutar, empanzina menos que a cerveja, o nível de álcool é muito menor do que o do uísque. Sob vários aspectos é uma bebida muito mais saudável. Conversando aqui em Natal com alguns amigos, eles me disseram que antes, em qualquer restaurante que você chegava não tinha vinho à mesa. E hoje você chega nos restaurantes melhores e é impressionante: uma ou outra mesa está bebendo outra bebida que não seja vinho.